A comunicação oral é a base da nossas interações sociais, permitindo-nos compartilhar ideias, sentimentos e experiências. Seja viajando pelos estados do Brasil ou pesquisando na internet, estamos constantemente em contato com a diversidade linguística. Você consegue perceber essas variações assistindo TV, TikTok, Instagram ou YouTube. Essas peculiaridades na fala não existem só em português, mas em todos os idiomas. Surge então uma questão comum para quem aprende uma nova língua: o sotaque. Muitas pessoas querem perder o sotaque nativo ao aprender um novo idioma, mas ter um sotaque não é um problema. Ele reflete a nossa diversidade linguística e cultural. Então qual é a diferença entre sotaque e pronúncia? Como melhorar a fala? Continue lendo para entender e aprimorar sua pronúncia em qualquer idioma!
O que quer dizer ter um sotaque?
Sotaque significa o ritmo e a melodia de um idioma, ele distingue as variações regionais e sociais desse mesmo idioma. Pode ser influenciado por diversos fatores, como a história, a cultura, a localização geográfica, entre outros.
Por exemplo, ao ouvir o francês congolês, é muito provável que você entenda o que está sendo falado, pois é um francês com uma construção de frases muito clara. Além disso, podemos sem duvida adivinhar a origem do falante. Da mesma forma, você pode facilmente saber se esta falando com uma pessoa do sul ou do norte da França ao escutar a palavra rosa em francês. No sul da França, a palavra “rose” (rosa) é pronunciada com a vogal “o” aberta (como em rosa). Enquanto nas outras regiões da França, essa mesma palavra é pronunciada com a vogal “o” fechada (como em bolo).
Realmente, como o sotaque está mais ligado à cultura, é difícil de mudar. A boa notícia é que você não precisa mudá-lo! Em vez disso, ao se concentrar em melhorar a pronúncia você vai ter conquistas muito maiores.
Qual é a diferença entre sotaque e pronúncia?
Do ponto de vista linguístico, falamos de sotaque para se referir apenas aos aspectos fonéticos de um dialeto. Em outros termos, se trata da forma distinta de pronunciar um idioma, sobretudo relacionada a um determinado país, região ou classe social. Tomando o francês como exemplo, devido a razões históricas, é evidente que existe uma variação notável nos sotaques locais do francês falado no norte e no sul da França. E isso sem mencionar todos os outros “franceses” falados em outros países como Canadá, Suíça e Senegal, por exemplo.
Por outro lado, a pronúncia é a capacidade de pronunciar as palavras de forma a torná-las compreensíveis para que outras pessoas possam entender. Portanto, a pronúncia pode ser correta ou não; por exemplo, pronunciar “vin”(vinho) como “vent” (vento) está errado. No entanto, mesmo que você tenha um sotaque forte, contanto que as pessoas entendam você, geralmente você está pronunciando corretamente.
Porque o seu sotaque não está errado?
O sotaque reflete parte da sua identidade, portanto, não existe sotaque correto e nem sotaque errado. Uma pessoa brasileira que estudou francês por 10 anos, mora e trabalha na França, provavelmente ainda tem sotaque brasileiro quando fala francês. Isso faz parte de quem ela é, não é algo que precisa ser corrigido. E como mencionei nesse outro artigo, apenas 5% da população brasileira é fluente em outra língua, sinta-se orgulhoso.
O sotaque não só é uma expressão da sua identidade, mas também mostra que você dedicou tempo para aprender um idioma diferente da sua língua materna. Portanto, eu posso ser fluente em português, espanhol, inglês e mandarim e ao mesmo tempo possuir sotaque estrangeiro, isso não diminui minhas competências linguísticas.
Logo, o importante é que a comunicação seja clara e compreensível. Os sotaques não devem ser motivo de discriminação ou preconceito. Pelo contrário, devemos valorizar a diversidade linguística. Porém, no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, a pronúncia das palavras pode ser um desafio.
5 práticas para melhorar sua pronúncia
Para melhorar sua fala em francês, siga esses 5 passos de maneira regular:
- A imersão na língua é essencial, pode ser feita através de músicas. Escute e cante músicas em francês. Continue até conseguir cantar junto com o cantor do mesmo jeito e na mesma velocidade que ele. Eu recomendo começar esse exercício com música Pop, como por exemplo as canções da Angèle. As letras acabam sendo mais acessíveis para iniciantes e o ritmo é mais lento que outros estilos musicais.
- Para se expor ainda mais ao francês, assista filmes e series em versão original e repita o passo 1. Além disso, adicionar legendas em francês é uma vantagem que ajuda na identificação da parte do diálogo em que você está. Escute uma vez, pause o vídeo, e repita o que você acaba de ouvir. Sem dúvida, esse exercício vai levar as suas habilidades de fala à outro nível.
- Esse passo é parecido com o anterior mas em vez de pausar e repetir, você vai tentar sobrepor sua voz à dos atores. Dito de outro modo, o objetivo é imitar a pessoa que está falando. Tal técnica é conhecida como “shadowing”. Tentar reproduzir perfeitamente a fala de alguém, vai te ajudar a aprimorar sua pronúncia. Se você tiver interesse nos sotaques da região de Paris, aconselho muito as séries Lupin e Plan Cœur na Netflix.
- Converse com falantes nativos para aprimorar sua pronúncia e fluência. Tente também procurar aulas de conversação, assim além de praticar francês, vai receber feedback sobre sua pronúncia. É importante criar oportunidades para falar no seu dia a dia, mesmo sozinho.
- Isso nos leva ao último passo. Eu o repito muito para meus alunos: grave-se falando francês e ouça as gravações para identificar áreas onde você pode melhorar. Se tiver vergonha, faça com vergonha mesmo! Aproveite os momentos mais tranquilos para se gravar e na hora de ouvir, preste atenção à sua pronúncia, entonação e ritmo.
Quanto mais você praticar esses exercícios, maior será a evolução na sua pronúncia em francês.
Logo, você não precisa se preocupar com seu sotaque na hora de falar outro idioma. Em vez disso, mantenha-se natural e orgulhoso de suas próprias origens. Lembre que os sotaques não indicam habilidade linguística insuficiente; pelo contrário, são uma parte natural do processo de aquisição e uso da língua.
Devemos reconhecer a diversidade linguística como uma vantagem e não como um obstáculo. Não deixe de criar oportunidades para falar e melhorar sua pronúncia. Coloque em pratica esses 5 exercícios e me conte quais funcionaram melhor para você!
Olá! Me chamo Julie, sou francesa, cheguei no Brasil em 2021 depois de viver seis anos na China. Da região parisiense para o mundo, me formei em línguas e comercio na Universidade de Línguas de Pequim. Hoje trabalho com marketing digital e sou professora de idiomas estrangeiros.